Sob o céu da cidade os namorados se encontram em
noites enluaradas, chuvosas ou frias. Para os namorados não importa como está o
céu, não importa nem mesmo como está a cidade. O caos pode ter tomado conta, o
congestionamento batido o recorde do ano. Podem estar no metrô, em plena Estação Sé
às 18h que nada os separa. Se estão nas Marginais, o congestionamento é tempo a
mais para beijos e abraços.
Pode haver manifestações na Paulista, jogo do
Corinthians ou mesmo Virada Cultural, que nada será importante. A programação
significará mais tempo juntos, ou separados. Podem estar sob o céu acinzentado
no Parque Ibirapuera, sob as estrelas no Pico do Jaraguá ou sob o céu refletido
nas águas da Guarapiranga, mas o único brilho que verão será o dos olhos um do
outro. Podem até mesmo não ver céu nenhum escondidos em alguma cadeira do
Teatro Municipal, ou nos corredores do MASP, e mesmo ali não verão Renoir ou
Pablo Picasso, passarão pelos corredores, do Barroco ao Contemporâneo, sem notar
as cores, texturas ou pinceladas das obras. Aos namorados obras não são
importantes, podem ser obras de arte, obras civis, ou mesmo obras literárias, a
verdadeira arte que querem é a de estarem juntos admirando-se mutuamente.
Contam os minutos que estão longe, agradecendo a
Einstein por compreendê-los. Cada segundo é uma década a separá-los e juntos
horas tornam-se segundos. Amam-se a casa momento compreendendo que o amanhã
pode não vir, que o agora é o que realmente importa.
Os namorados encontram-se sob o céu chuvoso, molhados
e friorentos, e estarão felizes, radiantes como em qualquer dia primaveril.
Encontram-se na Paulista, na Luz ou na Vila Madalena. Não importa o clima ou o
lugar, só vêem apenas um ao outro, suas cores, suas texturas, seus sorrisos.
Andam entre obras, sob a chuva, ou sob o sol. Se há
frio aquecem-se com o calor de seus corpos. Se há barulho, ouvem apenas o som
de suas vozes. Conversam sobre tudo e sobre o nada, pois querem apenas
ouvir-se, verem-se. O assunto será sempre o mesmo, o que sentem um pelo outro
Aos namorados importa estarem juntos, enamorados,
apaixonados. Amantes de si mesmos, acham-se entre os edifícios, nos corredores
dos shoppings, nas multidões de shows. Percebem-se a distâncias enormes apenas
pelo contorno, tão seu, tão familiar e amado. Acham-se pelo cheiro mesmo entre
milhares, pois é único o cheiro que ama e que procura.
Namorados encontram-se sob os céus de São Paulo todos
os dias...