domingo, 2 de outubro de 2011

Janelas abertas


O amor foi arrancado a facadas de seu peito por aquele a quem ela o entregara. A dor vivida foi esmagadora. Viveu a escuridão, o medo, o vazio de uma inexistência medicada por psiquiatras. Trancou as janelas e a porta da vida. Teve tanto medo que um dia se matou.
Ficou morta por exatos cinco dias e para seu próprio espanto acordou. Mas quem morreu naquele ato desesperado foi o medo, o vazio, a escuridão e junto com eles o laudo do psiquiatra. Percebeu que não adiantaria chorar nunca seria ouvida, que lágrimas não constroem história.
Sacudiu a poeira, voltou a sentir o vento no rosto, a enxergar as cores vivas e redescobriu a liberdade. Abriu as janelas e transformou a dor em palavras, retirou os medos com precisão cirúrgica, transformou cada um em versos e estrofes. Sua janela escancarada foi mostrada a todos, foi fotografada e festejada. Enterrava ali o amor assassinado. As janelas continuarão abertas, pois fechá-las é aprisionar-se novamente e agora já não pode viver sem o sol.

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